Antologia de textos com cães dentro.

domingo, 18 de março de 2007

CARGO CULT

Não vivo disto
tenho o tempo contado
para escrever um poema
um poema novo que não seja surdo
às minhas preces

há horas felizes
e fico à espera
não serei eu a começar

- toca a comer
ou porque ardeu tudo
ou porque vi coisas
e que as pequenas formigas argentinas
são indestrutíveis, pequenos pontos a bulir
mortos diariamente
para voltarem iguais, concentrados
no dia seguinte

a luta não nos pode salvar da fome
ou dos organismos especializados
eis o que disse o sineiro
não é para gostares e ainda não viste nada

à distância de um barulho
em terra incerta
dois minutos abaixo de cão
assim me cubro
enquanto o sono de todos
se esgota nos quartos de dormir

e agora não digo mais nada
como miséria.

João Almeida
A Formiga Argentina
2005

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