Antologia de textos com cães dentro.

sábado, 16 de junho de 2007

RETRATO DE D. SEBASTIÃO


Ruíram portas. Os velhos muros desmoronaram.
A lua de agosto, temível artesanato de um gnomo astuto
esperava a surpresa das vítimas. E a própria
palavra da língua fez ouvir gritos desentoados

vindos da noite dos tempos. O verão desse ano,
máscara disforme, envergonhada. E o rei,
um rapaz, o reino ameaçava como se faz às crianças
que não querem adormecer.

Os olhos azuis, pisados, desaguam em fantasias.
Sofriam, no severo conjuro adolescente, o juízo
que Platão verteu sobre os efeitos malignos da
arte, da ilusão que causa na alma humana. Havia

sonho, imagem e fazenda a destruir nos afilados dedos
que traziam morte, filme de gelo sobre o derradeiro
verão dos rios da cidade, ó castelos
e o lebréu, fiel, o mais fiel dos súbditos,

dispõe-se a recolher o afundamento
de corpos, barcas e pátria.
E do rapaz, de dezasseis anos ao tempo do retrato,
Areia de silêncio envolveu seus ossos. Inquietude,

Ânimo, valor ferido.

/Cristóvão de Moraes, c. 1572-74/

João Miguel Fernandes Jorge
Museu das Janelas Verdes
2002
Oferecido por Rui Almeida.

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