Antologia de textos com cães dentro.

sábado, 2 de junho de 2007

UM BLUES A DOIS



Fingimos muito bem.
Tu enrugas tua face filosófica
e pareces questionar a existência do mundo.
E eu sorrio e converso contigo.

A tristeza não é um espetáculo público,
pertence à nossa intimidade
e nela nos entendemos.
Posso então falar-te à vontade
e choro e te preocupas. Eu sei,
mesmo que nada digas,
afora lamberes-me as mãos
e me olhares com o teu olhar canino
agudamente.

Ambos sabemos o que nos entristece,
o que te preocupas por mim.
Ambos sabemos da tristeza mútua
e nos olhamos com respeito,
Mesmo que eu às vezes insista :
- Diga algo!
E tu me olhes perplexo,
porque querias tanto fazê-lo.

E amas-me e sabes que te amo.
O que não sabemos é que é a nossa questão.
E nós pensamos muito.

A cidade amanhece e estamos insones.
Um blues ia bem,
um dia aprenderás.

Silvia Chueire
(inédito)

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