Fico a observá-los da varanda:
vértices moventes, desenham
com muro de permeio volúveis
geometrias pelo tempo de um cigarro.
Olho para os bichos enquanto sopro
o fumo e me acerco de mim e aqueço
a mão para escrever este poema.
Daqui a pouco, o dono dos três
que ladram à direita virá prendê-los, o outro
corre de ponta a ponta e salta, só
um ponto no rectângulo da esquerda.
Esférico centro de uma circunferência
imaginária, vou enchendo de traços
a trama vazia da varanda mental.
E só então parece mesmo
que estou a vê-los, refém
de um outro olhar, cão
entre cães.
José Ricardo Nunes, in Três Oito e Setenta e Cinco, Companhia das Ilhas, Novembro de 2015, p. 9.