Antologia de textos com cães dentro.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

AZINHAGA II

Uma insolência seria bastante
Para a conveniência de um regresso
Como este sol alçado
Que aguarda o seu fim;
Mas não é isto importante.

Como aquilo que não vemos,
O importante,
É o semelhante a tudo,
Surpresa sem destinatário,
Como a indiferente
Humidade quente que do mijo sobe
E ora cai sobre o silvado;

Direi o que importante pode ser:
O cão que passa e rosna
Tem para com a sua fome
A harmonia de um ódio
Igual ao meu;
O moscardo vaivém
Entre cadáver de rato
E flor de cardo,
Que pousa no meu beiço como se beijasse
Em pedante homenagem
De quem se despede;
Uma sombra vem
E com ela a importância de quem sou.

Nunes da Rocha, in Sabão Offenbach, &etc, Abril de 2015, pp. 49-50.

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