Guardei a camisola com os pêlos do
cão — testemunha ocular da tentativa.
Transportava lágrimas para as mãos
do dono e trazia carícias de volta.
Coração pequeno à espera de um tufo
de entendimento. Puxou pelo cotão
macio das palavras. Lambeu o rosto e
ofereceu a baba. Mais não tinha para dar.
Deu tudo o que os humanos não deram.
Tão simples o barómetro do amor —
uma cauda erguida. Olhos rasos de perdão.
Sem nada pedir. Sem nada esperar.
Apenas a caruma dos antigos passeios
e quatro mãos a guiá-lo. Give me five e um
cordão de lealdade. Assim os humanos
soubessem amar, transportando
ao pescoço a única angústia.
Maria F. Roldão, in Pequeno Sangue, volta d'mar, Fevereiro de 2021, p. 15.