Alguns desenham vestidos com os poemas
Alinham as palavras até formarem um cone
Ou um "vê" se nos pretendermos mais precisos
Depois segue-se o contorno das ancas,
As palavras agora são o tecido para o baile
E o poema pronto para que se lhe aprecie o decote.
Eu não tenho jeito para desenho
Há muito se me fugiu a habilidade dos arquitectos premiados
Dos escritores de sorrisos largos nas fotografias
Das estantes ornadas com mascotes de cristal.
A minha mascote é um cão, destes a que chamam vira-latas
Pestilenta sombra, apedrejada pela luz do dia
Cão tão breve quanto o seu próprio nome, atropelado
Muito antes que o peso da roda atravesse a sua costela.
Sou mais deste animal expulso da sua infância à fisga.
Não me perguntem nada, que nem latir eu posso
Neste país de mais poetas que técnicos agrários.
Álvaro Fausto Taruma, in Animais do Ocaso,
Exclamação, Agosto de 2021, p. 97.
Alinham as palavras até formarem um cone
Ou um "vê" se nos pretendermos mais precisos
Depois segue-se o contorno das ancas,
As palavras agora são o tecido para o baile
E o poema pronto para que se lhe aprecie o decote.
Eu não tenho jeito para desenho
Há muito se me fugiu a habilidade dos arquitectos premiados
Dos escritores de sorrisos largos nas fotografias
Das estantes ornadas com mascotes de cristal.
A minha mascote é um cão, destes a que chamam vira-latas
Pestilenta sombra, apedrejada pela luz do dia
Cão tão breve quanto o seu próprio nome, atropelado
Muito antes que o peso da roda atravesse a sua costela.
Sou mais deste animal expulso da sua infância à fisga.
Não me perguntem nada, que nem latir eu posso
Neste país de mais poetas que técnicos agrários.