Homenagem a Ruy Belo
Aperto a renda da cortina
e o vestido do dia.
Minhas unhas estão compridas.
Espero os cães que remexem o lixo.
Recolher justamente o que recusei,
ordenar os restos e a sombra da recusa.
Esses cães que mastigam a polpa da noite,
a fibra de uma verdura vencida,
a embalagem de um rosto.
Esses cães vadios na coleira do instinto.
Sem a censura das pálpebras,
sem nomes que os façam ridículos.
Não perdendo tempo
caçando ratos nas árvores
ou o tempo no corpo.
Hoje os sinto novamente.
Aviso: é a última vez.
Limpo a zoeira da visita, pago a conta,
Encaderno as sobras que foram minhas.
E a raiva só pede que voltem.
Voltem
e me aceitem em seu bando.
Fabrício Carpinejar
Inimigo Rumor, número 15
2º semestre 2003
Oferecido por Rui Almeida.