Antologia de textos com cães dentro.

sábado, 23 de junho de 2007

9.

Zás! Entrou de rompante, sem licença!
Correu as mesas de nariz no ar,
Houve, na malta, uma alegria imensa
E uma senhora dona quase a desmaiar.

Os empregados dão-lhe caça.
Ele esquiva-se, esconde-se, ajudado
Pela malta. É um soberbo cão de raça,
Esbelto e bem tratado.

Fugiu à trela da dependência.
Por uns instantes (mais não terá!),
Escapa ao jugo da obediência,
Ao imperativo do aqui-já!

Depois dos caçadores haverem desistido,
Afagado e feliz,
Comeu um bolo, lento, estirado ao comprido,
E saiu quando quis.

(Com que emoção,
No circunspecto da minha idade,
Vivi, na fuga daquele cão,
A sensação de liberdade!)


António Manuel Couto Viana
Café de Subúrbio
1991


Oferecido por Rui Almeida.

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