Antologia de textos com cães dentro.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

EU E OS CÃES

Soam os cães. Eu ponho as mãos na noite
e considero os velhos temas do amor.
Eu e os cães puxamos pela noite
com longas franjas batendo-me na testa.

Mas tudo, tudo
é tão exterior:
as franjas dessa colcha descomposta
mas sensível, os eternos lençóis
da solidão.

Como se visse os cães comendo a noite.
Tão intranquilos. Com dente em ruína
a baba em fio
caindo pelas casotas solitárias.

Eu ouço os cães nesta cidade enorme
com crostas de ruídos onde bóiam
os táxis com seu farol astuto
sempre prostituído.

Mas já para os cães vai existir o sono
filho da noite, amigo de animais.
Quase o conheço trazendo
o corpo mole
e sobre o qual
eu morro desistido.

Armando Silva Carvalho
O Comércio dos Nervos
1968

Etiquetas

Seguidores