Antologia de textos com cães dentro.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

ISSA

Issa é mais malandra que o pardal do Catulo.
Issa é mais pura que o beijinho de uma pomba.
Issa é mais fofinha que todas as miúdas.
Issa é mais preciosa que as gemas da Índia.
Issa é a cadelinha mais-que-tudo do Públio.
Se geme, cuidarias que fala.
Sente a tristeza e a alegria.
Deita-se tombada no seu pescoço e adormece,
de tal maneira que nem um suspiro lhe ouves.
E, obrigada pelas exigências do ventre,
gota nenhuma ofende os lençóis,
mas com branda patinha o acorda e lhe recomenda
que a tire da cama e pede que a levante.
Tanto pudor se acha na casta cadelinha!
Ignora Vénus, e não achamos
digno marido de tão terna menina.
Não lha leve por completo a morte derradeira,
pinta-a Públio num quadro,
no qual verás tão parecida Issa
que nem ela é tão parecida consigo mesma!
Põe, pois, Issa ao lado do quadro:
ou ambas julgarás verdadeiras,
ou ambas julgarás pintadas!

Marcial, I. 109
daqui

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