Antologia de textos com cães dentro.

sábado, 15 de novembro de 2008

(excerto de) Conheces Blaise Cendrars?

(…)
O largo estava deserto. As entradas baixas das cubatas eram grandes buracos negros. Onde não se via ninguém. Como se tivessem fugido todos os habitantes. Conrado olhou à volta. Franzindo a testa.
O silêncio só era quebrado pelos ruídos cadenciados de um pilão. Que vinham da outra banda. Da floresta. Olhou para lá, interrogativamente. Nguongo Ai seguiu-lhe o gesto.
«Pilão! Tapioca!»
Percorreram todo o terreiro. Vazio de gente. Um pequeno cão cinzento, magro e coberto de feridas, atado a um pau, ladrou fracamente quando se aproximaram. Um dos soldados fingiu que lhe dava um pontapé. O animal, acovardado, fugiu. Encolheu-se à sombra.
«Não te chegues muito», disse um. «Os cães destes macacos são como os donos. Fingem que têm medo, mas, se te distrais, ferram-te logo o dente!»
(…)

Manuel de Seabra
Conheces Blaise Cendrars?
Publicações Europa-América, 1988
Oferecido por Rui Almeida.

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