tão para escaladas monte a eito
vira para nós o focinho ofegante o cão afável
espera que o bafejo nosso do bafejo seu
se aproxime
no Sol que declinou o azul ruboriza
e perto as pás das ventoinhas rodam vigorosas
deitam interrompidas sombras às veredas
postas que estão nestas alturas
Dezembro estende o frio desta hora
as aves sobressaltam no tumulto dos empenhos
erguemos os olhos vemo-las partirem para o lado
da estrada que contorna em baixo uma
aldeia-presépio e no horizonte os aviões riscam
fulvos de ocaso e longitude
é pesado imponente o artifício do planeta
na sua viagem sem destino escuridão adentro
e cismados com o fardo deste peso logo o xisto
se destapa no declive da laje que chapeia
à hora mágica
o cão pisa fareja alheado dos contornos
que há quantos mil anos alguém gravou aqui
brilhante do mesmo astro no mesmo
solo
círculos e espirais
linhas serpentiformes enfeitadas de líquen
sobre as quais nos deitamos
um momento
ainda o cão era um lobo nada brando
e já sinais destes brotavam da gaveta do fundo
colectiva
neves dilúvios fogos sismos não apagaram
a espiral da Idade do Bronze
menor persistência terá este poema martelado
agora mesmo na idade do tombo
Miguel-Manso, in Persianas, Edições Tinta-da-China, Abril de 2015, pp. 189-190.