Amor, o ingênuo menino que afaga uma cadela raivosa. Ai, não, é mordido. E condenado a viver babando, rangendo os dentes, ganindo para uma lua de sangue.
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Um homem, ai dele, que sofre dos nervos. Mora com a mulher e o filho na sua chacrinha. Para diversão do piá compra a mais branca das cabritas. Sem sossego lida na pequena roça. Bondoso e manso, basta não o contrarie. Uma tarde discute com a mulher. Sai, batendo a porta. Alegrinho, o cão late e pula à sua volta. Manda que se cale e esse aí pulando e latindo. Apanha numa forquilha o chicote e malha com força. O cãozinho arrasta as pernas traseiras numa sombra molhada. E some ganindo no mato. O homem vai em frente. Ao vê-lo, faceira na sua fitinha encarnada, berra a cabrita aos saltos. Manda que se cale.
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Esse mesmo cãozinho tonto aos saltos e latidos perseguindo a negra sombra de uma borboleta branca.
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O cão olha para o menino: o sol que move a lua, os planetas - e o seu rabinho.
Dalton Trevisan, dos livros Ah, é? (3.ª edição, 2013) e 234 (3.ª edição, 2013), Editora Record.