Antologia de textos com cães dentro.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

CÃO SOLTEIRO

Uiva assim alegre o cão solteiro.
Confundem-no com a piedade,
o desabrigo, ali vou eu
salvo a misericórdia divina,
ali não vou, nunca, que sou
de outra espécie, menos complicada.
Inquieto, para si mesmo indócil,
o cão em semicírculos de raiva
e liberdade espanta quem o vê.
Parece quase humano, mas o furor
animal dele aquieta como boa fraude
a nossa empatia e desassossego.
Dias de cão, uma década e meia,
oitenta anos em vida de gente.


Pedro Mexia, in Uma vez que tudo se perdeu, Tinta-da-China, Novembro de 2015, p. 43.

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