Antologia de textos com cães dentro.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O FARRUSCO


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Tinha um rafeiro de perna curta (o Farrusco), caçador exímio. Vivo e esperto. Tão vivo e esperto que irritava a minha avó materna, mulher quezilenta e envinagrada. Um dia que lhe conseguiu roubar duas chouriças de dentro de um tacho de barro de uma prateleira alta, sem que até hoje alguém saiba como conseguiu não partir o tacho que encontraram no chão já, a mulher teria perdido as estribeiras; deitando mão a uma broca de pedra que o meu avô usava na pedreira, desferiu o golpe mortal ao cão. E errou, por sorte dele.
Para lhe proteger a vida, para não ter que se zangar a sério com a mãe, o meu pai pediu a um amigo que lhe arranjasse dono para o cão. Longe, o mais longe possível. E o outro arranjou. Em Maria Vinagre a quase trezentos quilómetros (por estrada) dali. Lá o levou, numa camioneta Krupp, de noite, até ao local onde ia carregar barris de resina. E os meses passaram, o meu pai resignado, a minha avó esquecida do caso…
Até ao dia em que um outro aluno da mesma aldeia subiu ao andar de cima da escola de condução e interrompeu a aula de código. « Ó Baleizo! desce cá abaixo que tens ali uma visita!». Aflito, cuidando tratar-se de notícia de tragédia, morte de familiar ou coisa do género, o meu pai desceu. E ali estava o Farrusco. Magro, contente de reencontrar o dono. Até hoje ninguém sabe o percurso que fez durante as semanas que lhe durou a viagem de volta ao dono e a casa. Que pontes atravessou, que estradas ou carreiros tomou rumo a norte. Como soube que caminho tomar se a viagem de ida foi às escuras dentro do Camião. Como em toda Santarém descobriu pelo faro o rasto do dono até à escola de condução.

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História completa aqui.

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