Num sequeiro sequer quente
acorre-me a memória do rio
que mima o mar
- cães vagueiam sozinhos na margem.
Curioso que os encaremos como
crianças abandonadas
- logo crianças,
adultos absolutos
dissolvidos pelo tempo e o outro -,
logo os cães,
descendentes do lobo.
Quando vi a minha primeira alforreca
interroguei-me como era possível semelhante abjecção.
Anos depois, encantou-me um aquário de medusas
azulmente eléctricas
- percebi que não percebia as coisas
e isso era bom.
Medusas, alforrecas e gente
conservariam o sabor metálico da morte eminente,
pois o meu tórax é a catacumba
onde se empilham os esqueletos
de todos os males e monstros
- quando praguejam em tosse seca,
a tua mão,
catedral universal da pequenância,
absolve-os com pancadinhas côncavas,
transforma-os em passarinhos
e eles voam.
Ofereço-te o espelho que me resta
para que o bebas.
Catarina Santiago Costa
Tártaro
Douda Correria
Maio de 2016