Antologia de textos com cães dentro.

quinta-feira, 19 de março de 2009

fim

quarta-feira, 18 de março de 2009

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Tem cara de perder. Esta semana
voltou a não levar preservativos
e nunca mais comprou comida para o cão.
Se calhar divorciaram-se, e ficou ela
com o bicho. Só não percebo como é que
ele sozinho consegue beber tanto leite.
Perdeu também um pouco da arrogância
com que habitualmente me passava
o visa. Mas devia ser bonito, em novo.


Manuel de Freitas
Isilda ou a Nudez dos Códigos de Barras
Black Sun Editores
2001

quinta-feira, 5 de março de 2009

Disselama

Rato morto na valeta
acaricia o nevoeiro das sirenes.
Minha mão ensanguentada continha
a curte em sua calote moída. Cenas gold
de gravata & garrote. O mais difícil, o vigilante
securitas filtra a sebe até aos betos,
a piscina vedada a chungas, eram todos da mesma
turma, quem diria núpcias disse lama.
Nem sabias como íamos enlouquecendo,
deixavas sempre os cigarros a meio,
isso ainda era o menos. Nunca
deste pelo estado da tua cabeça.
Cadela que ladra morde o teu sonho
em seu sono no édredon. Detesta
vidros mortos pelos vidros. Juro
cacos, latões de fogo, errata do mundo,
meu, bué meu, a cortar-te as goelas
requinte que não t’amplie a trouxa
da vida toda fodida.

Rui Baião, Nuez, Lisboa: frenesi, 2003.

Oferecido pelo manuel a. domingos.

Selecção natural

Flores de artifício, dois rabos,
corneta e orelha. É só pegar
o silêncio pelos cornos. Não percas
na largada, pamplona, o desassossego
do inimigo rente a nós, ideia do quanto
tudo é mais relativo.
Há bodes pelo telhado, rafeiros
roendo a sombra às concertinas, e tanta,
tanta lenha nova sem pegar.
Todos tão vivaços, invencíveis da vida,
viciados em triunfo, comezaina
e mulheres de companhia. Curral
duplex, o obscuro na faena em si.

Rui Baião, Nuez, Lisboa: frenesi, 2003.

Oferecido pelo manuel a. domingos.

quarta-feira, 4 de março de 2009

O CARNAVAL DOS ANIMAIS

CÃES - 1

Como o faria um amigo, ou um inimigo, ou um
estranho, olhamo-nos como olham os cães

CÃES - 2

Dormem uns em cima dos outros
no bom aconchego uns dos outros
Assim nem precisam de sonhar

CÃES - 3

Cães de guarda, cães de luta, caniches das estrelas
de Hollywood - parece que no vasto labirinto
das espécies alguma dignidade se perdeu

Rui Caeiro
O Carnaval dos Animais
Letra Livre
Outubro de 2008

12

Onde é que eu ia? Não ia, parece.
Embora tenha ficado um bocado perplexo quando levantei o lençol de água para ver o cão e, em vez dessa evocação clássica, se me deparou uma chusma de pintores chuchando-lhe a carcaça ensanguentada.
Depois encostaram uma escada para o lado, digamos, de fora da moldura, por onde desciam os mais satisfeitos.
Arrotando no espaço da tua distracção, prossegui.

Jorge Fallorca
Água Tatuada
&etc
Março 1999

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