Antologia de textos com cães dentro.

sábado, 20 de março de 2021

PREFIRO O INÁCIO,

 a quase todos os poetas que conheço.
Não sei se morreu ou se já não vive
— pois foi proibido de beber
e de fumar, e o Inácio era
essencialmente isso: um grande bêbedo
e um fumador diligente, que ensinara
o cão a ir junto da taberneira buscar-lhe
novo maço de tabaco. Quem viu, acredita.

Quem não viu, falhou o milagre.

Manuel de Freitas, in Ubi Sunt, Averno, Junho de 2014, p. 13.


segunda-feira, 1 de março de 2021

HOMENAGEM

Morreu enforcado com um colar de flores
e os cães saltam para lhe lamber os pés.
Morreu enforcado coberto de flores.
Erguidos sobre as patas traseiras
os cães lambem-lhe os pés.

Dizem que fôra poeta (o que é vulgar)
mas ocultam a luz que o revestia.
Deu um tiro na cabeça e simultaneamente
enforcou-se com um colar de flores.

A extravagância não é o facto, mas a cor.

Por isso fotografam o cadáver
já liso e sereno como um lago
pestífero, quieto e silencioso.

Novembro 1967

Manuel de Castro, in Bonsoir, Madame, Alexandria / Língua Morta, Dezembro de 2013, p. 235.

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