Antologia de textos com cães dentro.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

ARQUESSÍTIO

tão para escaladas monte a eito
vira para nós o focinho ofegante o cão afável
espera que o bafejo nosso do bafejo seu
se aproxime

no Sol que declinou o azul ruboriza
e perto as pás das ventoinhas rodam vigorosas
deitam interrompidas sombras às veredas
postas que estão nestas alturas

Dezembro estende o frio desta hora
as aves sobressaltam no tumulto dos empenhos
erguemos os olhos vemo-las partirem para o lado
da estrada que contorna em baixo uma
aldeia-presépio e no horizonte os aviões riscam
fulvos de ocaso e longitude

é pesado imponente o artifício do planeta
na sua viagem sem destino escuridão adentro
e cismados com o fardo deste peso logo o xisto
se destapa no declive da laje que chapeia
à hora mágica

o cão pisa fareja alheado dos contornos
que há quantos mil anos alguém gravou aqui
brilhante do mesmo astro no mesmo
solo

círculos e espirais
linhas serpentiformes enfeitadas de líquen
sobre as quais nos deitamos
um momento

ainda o cão era um lobo nada brando
e já sinais destes brotavam da gaveta do fundo
colectiva

neves dilúvios fogos sismos não apagaram
a espiral da Idade do Bronze
menor persistência terá este poema martelado
agora mesmo na idade do tombo

Miguel-Manso, in Persianas, Edições Tinta-da-China, Abril de 2015, pp. 189-190.

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