Antologia de textos com cães dentro.

domingo, 17 de janeiro de 2021

UM POEMA DE JOÃO PEDRO AZUL

 


XXII

          quando for grande
Quero ser cão
ladrar às camionetas
           que ao passar
fazem estremecer
          sem aviso
a pele de vidro que visto

          a minha rua
Não tem fim
Esta fome que trago nos ossos
          também não
Mas se fim houvesse
certo estaria do sal
a gretar-me a boca

          confundir o mar com o tempo
          quando não se sabe nadar
É névoa que anuncia a tragédia


João Pedro Azul, in Um Cavalo Sentado à Porta, Edição do autor, Outubro de 2020, p. 43.


DISFORME

Nobre rafeiro que me acompanhas
quando me deito também sou de quatro patas
a mexer com tal velocidade que o meu lombo
separa-se ondulando para fora 
como um tapete voador.
De regresso ouço embevecida
o compasso ternário do barulho 
que fazes a absorver água.
Uma valsa incompleta
embalando o biscoito de coelho
que retiro tão feliz do forno.
Olhas para mim
perscruto o reverso 
da minha paisagem 
submersa em dívidas
e então percebo logo
porque é que a vida
ainda corre de feição.

 

sábado, 9 de janeiro de 2021

NALA


 

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