Morreu enforcado com um colar de flores
e os cães saltam para lhe lamber os pés.
Morreu enforcado coberto de flores.
Erguidos sobre as patas traseiras
os cães lambem-lhe os pés.
Dizem que fôra poeta (o que é vulgar)
mas ocultam a luz que o revestia.
Deu um tiro na cabeça e simultaneamente
enforcou-se com um colar de flores.
A extravagância não é o facto, mas a cor.
Por isso fotografam o cadáver
já liso e sereno como um lago
pestífero, quieto e silencioso.
Novembro 1967
Manuel de Castro, in Bonsoir, Madame, Alexandria / Língua Morta, Dezembro de 2013, p. 235.