Antologia de textos com cães dentro.

segunda-feira, 12 de março de 2007

CONSTELAÇÕES DO VERÃO

Um corpo
estendido
nu
na iminência de ser música

diz o que penso

O fogo
súbita convulsão da água

sobe
pelas pernas
penetra os lábios

vacilantes do verão

exausto
e branco
porque entardecia

O olhar
cai

errante
cão

lambendo
a chama oscilante dos dedos

escassa língua
sobre flancos desertos

as palavras
tão leves que nem o ar feriam
nem sequer o ar

As palavras
que se levantam para recusar
(quando aprenderão a morder?)
são a nossa herança

E o fogo

Eugénio de Andrade
Véspera da Água
1973

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