Antologia de textos com cães dentro.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

UMA TARDE de Agosto. Nuvens altas e secas espalham o calor que sobe das pedras, que cerca as árvores, que trepa pelas paredes da casa e reverbera no coro monótono das cigarras.
A sombra agacha-se; a água parece lodo. O cão sofre, com a língua de fora e o olhar mortiço. Desespera. Está velho, acabado. Pensa que poderá ser o sofrimento do último verão - isso não o consola, nem o perturba.
Pensa que há um Deus que vigia a inclemência do verão e o sofrimento dos cães; agora, deseja o sono, que lhe resiste; cresce a modorra, o estupor do desamparo.

José Alberto Oliveira
Bestiário
2004

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