CÃES. Satie queria fazer um teatro para cães. O pano sobe. O cenário representa um osso.

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Em Inglaterra acaba de ser rodado um filme para cães. Os cento e cinquenta cães convidados para a estreia precipitam-se sobre o écran e fazem-no em pedaços (N.Y. Times).

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Rua La Bruyere, 45, em casa de meu avô grande inimigo dos cães e maníaco de ordem, saio (tinha catorze anos) com um fox de um ano e meio, que mal conseguia que me fosse sendo tolerado em casa. Ao fundo dos degraus brancos do vestíbulo, o meu fox arqueia-se e alivia-se. Eu precipito-me de mão levantada. A angústia dilata os olhos do pobre animal; devora o seu excremento e põe-se depois com o melhor ar que lhe é possível.

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Na clínica, dão às cinco horas ao velho buldogue moribundo uma injecção mortal de morfina. Uma hora depois, o cão brinca no jardim, salta, rebola. No dia seguinte, às cinco horas, arranha a porta do médico e pede nova injecção.

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O cão de M.me de C..., em Grasse, apaixonado pela cadela de Marie C..., que mora a alguns quilómetros de distância. Espera pelo autocarro, salta para a plataforma. O jogo é igual no regresso.

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Tinham vendido, na rua, um cão minúsculo a M.me A. D... Ao entrar em casa, ela põe o cão no chão para ir buscar água. Volta e encontra o cão empoleirado num quadro. Era um rato dentro de uma pele de cão. Com a cólera, conseguira roer as suas falsas patas.

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O duque de L... pagava aos guarda-portões do castelo para tratarem do seu velho caniche. Um dia chegou de imprevisto. Ao seu encontro corre um cão amarelo que arrasta atrás de si uma pele branca de caniche. Havia três anos que os guarda-portões disfarçavam o próprio cão deles com a pele do morto.

Jean Cocteau
Ópio
Tradução de Miguel Serras Pereira
Difel, 1984

Oferecido por Rui Almeida.