Antologia de textos com cães dentro.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O CÃO

(El gos)

Talvez, sim, esteja velho,
velho e covarde
como um cão de casa rica.
Às vezes tenho pena de mim.
Quando vou pela cidade,
cheia de carros de tanta cor,
com gente jovem, alta e decidida
- as raparigas com os grandes penteados
e os olhos pintados -,
vejo-me tão pequeno e vacilante,
que tenho pena de mim
e dá-me para rir.

Não sei se lhes passa o mesmo.
A ti, que lês o jornal,
heróico e solitário,
não sei se te aconteceu
sentires-te tão covarde
como um cão abandonado
que mexe o rabo
porque tem medo
e quer causar compaixão.

Às vezes tenho pena de mim.
Quando vejo que lambo os pratos
e os ossos,
quando engraxo o cão potente,
quando sorrio à juventude
porque é juventude,
e aos velhos
porque são eles,
tenho pena de mim
e dá-me vontade de rir.


Joan Vergés
in Antologia da Novíssima Poesia Catalã
tradução de Manuel de Seabra
1974

Oferecido por Rui Almeida.

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