Antologia de textos com cães dentro.

sábado, 28 de junho de 2008

JOSÉ

Vi, no teu rosto de cão,
o amor que pouco vi no rosto dos homens.
Às vezes,
a meio das noites,
a meio da extrema solidão da minha vida,
era como se tivessem descido à terra
quatro astros emudecidos,
e então,
como silenciosas gotas nascidas no céu,
caíam duas lágrimas dos teus olhos,
da sua bondade,
do seu assombro,
e ali, debaixo das luas que iluminam o mundo,
tu adormecias,
sem qualquer rumor nas pálpebras e na cauda,
como se ouvisses junto aos altares pagãos,
as canções de uma alma doente,
na primavera dos cães

José Agostinho Baptista

Sugerido pelo Rui Almeida.

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