Antologia de textos com cães dentro.

sábado, 16 de junho de 2007

VILA VERDE

Cadeia de Vila Verde,
Com teus ferros, tuas pedras,
Arrasada sejas tu!
Com os teus ferros sem alma;
Tuas pedras de olhar cru.

Vila Verde! Vila Verde!
Ai! Cadeias como a tua
Nem mesmo a fogueira as lava!
Eu bem vi em Vila Verde
Loucos, cegos… E, à mistura,
Dois presos. Ambos tão jovens!
Um sorria; outro chorava…

Fora em Maio.
Havia rosas
Cá fora.
E, ao sol, na estrada,
Bailavam os namorados!

Mocidade não tem crimes.
O que tem é coração!
Os dois presos eram jovens,
Estendi-lhes pelas grades,
A palma da minha mão…

Cuidado, Cristãos! Cuidado!
Quanta vez a caridade
Dói tanto ou mais que o desprezo!

Quem falou em mocidade?
Quem falou em coração?

Ao ver-me, aqueles dois presos
Abraçaram-se um ao outro,
E ambos me disseram:

– Cão!


Pedro Homem de Mello
Bodas Vermelhas
1947


Oferecido por Rui Almeida.

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