Antologia de textos com cães dentro.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A IRONIA

A ironia, essa graciosa coisa
que nos faz rir
do que dá vontade de chorar,
este cãozinho que salta
preso à trela, atrevido e reprimido,
a ironia... a minha ironia!
queria-a eu tão medida e inteligente,
tão rebuçada, tão independente
e tão seca, mesmo,
que mal fosse percebida.

Que no ligeiro riso vissem aquiescência,
na reserva simples dúvida,
na cortesia aceitação...

Que a minha ironia calada,
e quase séria, fosse o meu baluarte.
Adormeceu, diriam os sitiantes...
(Sitiantes, rica palavra!
Os que estão de fora
e comentam intenções, intimidades...)

Ó minha ironia, meu cãozinho!
a tua voz... é um latido
muito pouco musical e breve,
quase ríspido, de puro desenfado.
Ou se o não é,
por imperfeitamente educada,
queria que eu fosse!

Irene Lisboa
Seara Nova
1936


Oferecido por Rui Almeida.

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