Antologia de textos com cães dentro.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A RUA (excerto)


Três soldados e um cão atrás

De quem é a graça?
Do cão.
Em que reside?
No cão... familiar e subordinado,
dedicado.
Ou fantasista, repententista.
Quem o sabe?
Cão atrás de soldados.

Era do cão a graça?
Certamente era.
Um cão humano, ou quase,
voluntário e subordinado.
Mais vivo, até mais impressionante,
mais simpático sem o saber
que os seus donos desinteressados.
Guapos rapazes, em todo o caso.
De corpo para a frente,
um pouco desencontrados,
de espingarda ao ombro
conversando e avançando
como uns bonecos articulados.

Três só, à vontade.
E o cão, toca que toca
com as suas quatro patas precipitadas
num salto cadente...
Como uma coisa esquecida!
Humilde e alegre criado,
uma parte da vida
sem valor nem preço
daqueles simples rapazes.

Três... a andar, falando de quê?
Pode-se lá saber, sabe-se lá!
Três numa linha breve,
um traço móvel desta rua torta, matinal e ensoalhada.
Três, com o seu cão atrás.
Aquele bicho malhado
que precisava de os seguir,
de os acompanhar,
de lhes ser um ente familiar.
Aquele cão...
aquele cão, que só pintado!

Irene Lisboa
Seara Nova
1946



Oferecido por Rui Almeida.

Etiquetas

Seguidores